Os líderes dos protestos na Colômbia convocaram a segunda greve geral em menos de uma semana em rejeição ao governo de Iván Duque, que, apesar de sua oferta de diálogo, não consegue pôr fim à agitação social que deixou quatro mortos nas ruas em seis dias.
“Todas as ações de mobilização acordadas estão mantidas”, disse Diógenes Orjuela, presidente da Central Unitária dos Trabalhadores, um dos sindicatos mais poderosos do país.
O dirigente liderou na sede presidencial a primeira reunião entre o governo e alguns setores do protesto, que foi concluída sem acordos.
Milhares de pessoas saíram às ruas desde a última quinta-feira, quando a convocação de uma greve nacional resultou na maior mobilização enfrentada por um governo neste século na Colômbia. Desde então, o barulho das panelas e as marchas se alternam com alguns episódios de repressão oficial.
Na segunda-feira, um estudante de 18 anos morreu depois de ter sido ferido no sábado pela força policial (Esmad).
O caso de Dilan Cruz ampliou a oposição do movimento estudantil, que agora pede o desmonte da Esmad.
“Está claro que há uma decisão do governo nacional de reprimir e macarthizar o direito de protestar”, disse Jennifer Pedraza, líder da universidade que faz parte do comitê.
Centenas de jovens se concentraram em frente ao hospital onde Cruz morreu onde realizaram uma manifestação em repúdio a ação da polícia. E em outro ponto da cidade houve um silencioso protesto.
“Queremos o desmonte da Esmad, é uma entidade que reprime os protestos sociais e nos mata”, disse à AFP Juan Guerra, um estudante universitário de 19 anos.
Em sua maioria pacíficos, , os protestos deixaram quatro mortos, cerca de 500 feridos entre civis, policiais e militares, além de 172 detidos e 60 venezuelanos expulsos por “vandalismo”.
Nesta terça-feira, um policial ficou gravemente ferido por conta de “um dispositivo explosivo não convencional” durante uma manifestação na cidade de Neiva, segundo informações oficiais.
– Impaciência “é grande” –
Em meio à onda de protestos no continente, na Colômbia as ruas se voltaram contra Duque e seu governo impopular. Quase sete em cada dez colombianos desaprovam sua administração, de acordo com uma pesquisa feita em novembro pelo instituto Invamer.
Duque enfrenta um descontentamento que vem se formando há anos. A Colômbia é o país mais desigual entre os 36 parceiros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), tem um desemprego de 10,1% e a informalidade do trabalho castiga quase 50% dos trabalhadores.
Os colombianos também sentem o ressurgimento da violência do tráfico de drogas em vários pontos do país e o descumprimento ou atraso dos acordos de paz com as FARC, que já foram a guerrilha mais poderosa da América Latina e se tornaram um partido em 2017.
“A impaciência do cidadão é grande, a reivindicação do cidadão é grande (…), mas também é muito importante entender que os governos não podem fazer promessas, nem os governos têm varinhas mágicas com as quais soluções milagrosas e imediatas são produzidas”, disse Duque na segunda-feira.
O governo acredita ser alvo de uma campanha de desinformação e falácia que estimularam a mobilização, embora Duque considere legítimas algumas reivindicações.
Nos últimos dias, o presidente insistiu em explicar o que, segundo ele, seriam os benefícios de uma reforma tributária em curso.
“A ideia é devolver cem por cento do IVA (de 19%) às famílias mais vulneráveis da Colômbia”, disse Duque na terça-feira.
Por outro lado, as centrais dos trabalhadores rejeitam as iniciativas do governo para flexibilizar o mercado de trabalho e as aposentadorias.
– Diálogo ampliado –
Embora Bogotá seja o epicentro da revolta social, milhares de pessoas se reuniram em Medellín, Cali, Barranquilla o Manizales.
Opositores à marcha realizaram na véspera um plantão no hospital da polícia, no oeste de Bogotá, em homenagem aos 341 policiais feridos desde a quinta-feira em choques com manifestantes.
As negociações do governo se desenvolverão até 15 de março em nível nacional e regional para falar de luta anticorrupção, desemprego, “crescimento econômico com equidade”, educação, fortalecimento de instituições, paz e meio ambiente.
As negociações com o governo ocorrerão até 15 de março nos níveis nacional e regional para discutir luta anticorrupção, desemprego, “crescimento econômico com equidade”, educação, fortalecimento de instituições, paz e meio ambiente.
Ao final, se buscará consolidar um pacote legislativo, iniciativas de políticas públicas e que as “inquietudes” sejam incluídas nos planos de desenvolvimento dos prefeitos que assumem em janeiro, explicou o coordenador nacional do diálogo, Andrés Molano.
Os líderes de protesto apresentaram uma plataforma variada de 13 solicitações, que vão desde a retirada de uma reforma tributária até o compromisso de não privatizar os bens do Estado, passando pelo trâmite “imediato” de regras anticorrupção, segundo o Comitê da Greve.
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