O navio humanitário Sea Watch, com 40 emigrantes resgatados no Mediterrâneo, entrou no porto italiano de Lampedusa e sua capitã, Carola Rackete, foi imediatamente detida, informou à AFP a ONG responsável pela operação.
Rackete “acaba de ser detida”, disse Ruben Neugebauer, porta-voz do Sea Watch, na madrugada deste sábado.
O porta-voz acrescentou que os 40 emigrantes permanecem a bordo do navio, já atracado no cais.
O diretor da ONG, Johannes Bayer, escreveu no Twitter que “estamos orgulhosos da nossa capitã, que fez o era necessário, insistiu no direito marítimo e colocou estas pessoas em um ambiente seguro”.
Rackete havia ignorado o bloqueio do seu navio nas águas territoriais italianas imposto pelo ministro do Interior, Matteo Salvini, de extrema direita.
O próprio Salvini solicitou publicamente a prisão de Rackete e do restante da tripulação do Sea Watch por ajudar a imigração clandestina, assim como o sequestro do navio.
Inicialmente, a polícia marítima ordenou que o navio detivesse seu progresso quando se encontrava a uma milha náutica do porto.
Durante a sexta-feira, Rackete manteve contato permanente de vídeo com jornalistas em Roma, quando denunciou uma situação “incrivelmente tensa” a bordo do Sea Watch, repleto de emigrantes.
“Neste momento a situação é incrivelmente tensa, e está piorando a cada momento (…). É muito difícil psicologicamente para todos”, declarou Rackete, de 31 anos.
A capitã contou que a maioria dos migrantes resgatados são vítimas de traumas, que sofreram abusos e violências e que estão muito angustiados por seu destino.
– “Situação insustentável” –
“Não podem passar outro dia assim. A situação é insustentável”, havia advertido o político italiano Riccardo Magi, que visitou o navio na quinta-feira.
Um migrante de 19 anos com fortes dolores e seu irmão pequeno tiveram que ser evacuados nesta quinta.
Os demais 40 dormiam na coberta do navio, sobre salva-vidas infláveis e sob barracas improvisadas para se proteger da onda de calor que atinge toda Europa.
O Sea-Watch, com bandeira holandesa, resgatou em 12 de junho um grupo de 53 migrantes que se encontravam à deriva em um bote inflável em frente à costa da Líbia.
As pessoas mais vulneráveis foram evacuadas, mas Salvini proibiu a entrada em águas italianas.
Na quarta-feira, depois mais de duas semanas no mar, Rackete decidiu que não haveria outro remédio a não ser violar a proibição e salvar os 42 migrantes restantes.
Há um ano, Salvini ordenou o bloqueio dos portos para conter o fluxo de imigrantes em situação irregular na costa da Itália.
A Procuradoria de Agrigento, na Sicília, abriu uma investigação contra a capitã por tráfico ilegal de seres humanos e a notificação foi entregue pessoalmente na sexta-feira por agentes da Guarda de Finanças, que na véspera haviam revistado toda a embarcação.
“Violamos a lei porque a Líbia não é um porto seguro para desembarcá-los, porque lá estão em guerra. Estou segura de que a justiça italiana reconhecerá que a segurança das pessoas é mais importante que as fronteiras nacionais”, explicou a capitã.
Salvini exige que os emigrantes sejam levados para a Holanda, bandeira do Sea Watch, ou para a Alemanha, sede da organização humanitária.
O líder da Liga acusou paradoxalmente a organização alemã de “fazer política” com a vida dos emigrantes.
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