Exercício: um telescópio detectou um asteroide de 100 a 300 metros de diâmetro se movendo a 14 quilômetros por segundo, a 57 milhões de quilômetros da Terra. Os astrônomos estimam em 1% o risco de colisão com o planeta em 29 de abril de 2027. O que fazer?
Este é o cenário potencialmente catastrófico, inteiramente imaginário, no qual cerca de 300 astrônomos, cientistas, engenheiros e especialistas em emergência estão trabalhando esta semana nos subúrbios de Washington, durante o quarto exercício internacional deste tipo desde 2013.
“Não é Hollywood”, disse Jim Bridenstine, administrador da Nasa, ao abrir os trabalhos da sexta Conferência Internacional sobre Defesa Planetária, no campus da Universidade de Maryland, em College Park. Os países representados: Itália, Alemanha, França, Rússia, Israel, China…
A ideia de que a Terra tem que se defender contra um asteroide chocava-se, no passado, com o que os especialistas chamam de “fator risadinha”. Mas em 15 de fevereiro de 2013, um meteoro contribuiu para acabar com o desdém.
Naquele dia, um asteroide de 20 metros apareceu do nada e explodiu quando entrou na atmosfera, 23 quilômetros acima da cidade russa de Chelyabinsk. Os habitantes sentiram o calor da explosão a 60 km de distância. As janelas de milhares de edifícios explodiram. Mil pessoas ficaram feridas.
“O aspecto positivo de Chelyabinsk foi que provocou uma consciência do público e dos políticos”, disse à AFP Detlef Koschny, codiretor do Escritório de Defesa Planetária da Agência Espacial Europeia (ESA), representado por cerca de dez pessoas na conferência.
– Quantos? –
Apenas os asteroides cuja órbita os aproxima a menos de 50 milhões de quilômetros da Terra nos interessam. Os astrônomos estão descobrindo-os todos os dias: mais de 700 já este ano, com um catálogo total de 20.001, anunciou Lindley Johnson, do escritório de coordenação de defesa planetária da Nasa, criado em 2016.
Entre os que mais apresentam riscos estão, por exemplo, uma rocha chamada 2000SG344: com cerca de 50 metros de diâmetro e uma chance em 2.096 de colidir com a Terra dentro de 100 anos, segundo a ESA.
A maioria é menor, mas 942 têm mais de um quilômetro, segundo o astrônomo Alan Harris, que informou à plateia que alguns grandes asteroides provavelmente ainda estão escondidos no céu: “A maioria está estacionada atrás do Sol”.
São principalmente os telescópios americanos, no Arizona e no Havaí, que os detectam.
A ESA instalou um telescópio na Espanha e planeja outros no Chile e na Sicília. Muitos astrônomos pedem um telescópio no espaço, já que, da Terra, não se pode ver os objetos do outro lado do Sol.
– Desviar o asteroide –
O exercício desta semana pretende simular como o mundo responderia à ameaça. Primeiro seria necessário apontar os telescópios para o objeto para calcular com precisão sua velocidade e trajetória, sendo as observações iniciais grosseiras.
Em seguida, a escolha é binária: desviar o objeto ou evacuar o local a ser atingido.
Se o objeto for inferior a 50 metros, o consenso internacional é evacuar a região que provavelmente será atingida.
Segundo Detlef Koschny, duas semanas antes do impacto, pode-se prever o país afetado. Alguns dias antes, a precisão é de algumas centenas de quilômetros.
Para objetos maiores, a ideia não é enviar uma bomba atômica como no filme “Armagedon”, porque isso poderia criar peças igualmente perigosas. A ideia seria lançar um dispositivo em direção ao asteroide para desviá-lo… como um carrinho de bate-bate cósmico.
A Nasa testará a ideia em um asteroide real de 150 metros em 2022 com a missão DART.
Permanece o problema político, de acordo com Romana Kofler, do Escritório de Assuntos Espaciais das Nações Unidas: “Qual seria a autoridade decisória?”
“O consenso até agora foi o de não responder a essa pergunta”, disse ela.
Em qualquer caso, o Conselho de Segurança da ONU seria acionado, mas deixaria aberta a questão de saber se os países ricos financiariam uma missão se não estiverem na mira do 2000SG344, ou de outro seixo celestial.
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